sexta-feira, 22 de maio de 2009

Estrelas produzidas pelo homem



Quando o centro de laser mais poderoso do mundo entrar em ação no final do mês uma pequena estrela nascerá na Terra. O Centro Nacional de Ignição (NIF, na sigla em inglês), no Estado americano da Califórnia, terá como um de seus objetivos estudar ciências físicas e planetárias e examinar, no conforto do laboratório, fenômenos distantes, como a formação de planetas ou as violentas explosões que dão origem a estrelas, chamadas de supernovas.

"Para entender onde estamos no universo e do que somos feitos, é preciso entender a explosão das estrelas", disse o professor Paul Drake, da Universidade de Michigan. Ele é um entre vários pesquisadores esperando para testar suas teorias usando o centro que demonstrará ainda as possibilidades da fusão nuclear, a reação que está no centro do Sol e que é uma potencial fonte de energia abundante e limpa para o planeta.

Mas, enquanto muitas atenções estarão voltadas para o objetivo de satisfazer a demanda da humanidade por energia, alguns cientistas esperam responder outras questões fundamentais.

"No NIF você pode marcar uma explosão estrelar para uma quinta-feira às nove da manhã ao invés de ter que esperar que isso aconteça por acidente no universo", disse Eril Storm, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, onde fica o NIF.

Onda de choque
Outros centros, como o laser Omega na Universidade de Rochester, em Nova York, já são usados para este tipo de teste. Mas os 192 lasers do NIF criarão mais energia do que qualquer outra instalação, dando aos cientistas uma janela sem precedentes para fenômenos cósmicos distantes.

Durante os experimentos de fusão, os raios focam brevemente 500 trilhões de watts - mais do que o pico de energia gerado nos Estados Unidos inteiros - em uma cápsula contendo combustível de hidrogênio.

A intensa energia cria temperaturas de 100 milhões de graus e pressões bilhões de vezes maiores do que a pressão atmosférica terrestre, forçando o núcleo do hidrogênio a fundir e liberando uma quantidade colossal de energia. Nos experimentos astrofísicos, no entanto, a cápsula de combustível seria substituída por uma meia esfera de elementos arranjados em camadas, criada para imitar o centro de uma estrela.

"Você escolhe o material e as estruturas entre ele para ser relevante ao que acontece quando uma estrela explode", disse o professor Drake. "O laser atingiria o centro - que corresponde ao centro da estrela - criando uma onda tremenda de choque que explodiria o material."

O experimento deverá permitir que os pesquisadores investiguem o interior de estrelas e supernovas em detalhes sem precedentes e entendam melhor como surgem esses objetos.

Chuva de diamantes
Mas não são apenas os astrofísicos que estão animados com o centro. Cientistas planetários também querem acesso ao equipamento para testar suas teorias sobre a formação dos planetas e de sistemas solares. "A arquitetura do Sistema Solar é muito provavelmente controlada em certa medida pela existência de planetas como Júpiter", disse o professor David Stevenson, do Instituto de Tecnologia da Califórnia.

A gravidade do planeta gigante controlou a posição de vastas nuvens de poeira e detritos em nossa vizinhança cósmica e, por isso, também fez com que blocos de construção estivesses disponíveis para a formação dos outros planetas, incluindo a Terra. E, como outros 300 gigantes gasosos com massa similar ou maior do que Júpiter foram encontrados recentemente orbitando outras galáxias, o entendimento de como e quando esses objetos são formados também pode ajudar na compreensão da evolução de outros sistemas planetários.

Para isso, cientistas estão contando com o NIF para tentar entender mais sobre as extremas condições de temperatura e pressão no coração dos planetas, e o efeito que essas variáveis têm na matéria.

Segundo o professor Ray Jeanloz, da Universidade da Califórnia, os conceitos básicos de química são virados de cabeça para baixo com essas pressões esmagadoras.

"Hidrocarbonetos iriam se decompor em uma mistura de hidrogênio e carbono", explicou. "O resultado seriam diamantes chovendo da atmosfera."

"Esse é o tipo de processo que você nunca adivinharia se não pudesse estudar os próprios materiais."

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Terra vista em pleno conserto do Hubble

Primeiro passo de um astrônomo é observar céu a olho nu

Há 400 anos Galileu inaugurava uma nova era na astronomia ao observar o céu com um telescópio. Desde então, uma legião de astrônomos explora o universo com o uso de instrumentos óticos. E não se trata apenas de cientistas, munidos de tecnologia de ponta e conhecimentos sofisticados. Amadores também conseguem, com um pouco de estudo e equipamentos mais simples, entender a dinâmica dos astros e ainda realizar algumas descobertas. Mas, para isso, precisam ter disposição de passar por algumas etapas.

Os especialistas recomendam que os iniciantes na astronomia comecem observando o céu a olho nu. Com o auxílio de apenas um planisfério - espécie de mapa celeste em forma de disco que indica a posição das estrelas de acordo com o hemisfério, data e horário da observação - os novatos na atividade devem aprender a identificar e localizar as principais constelações.

"As cartas simulam o movimento aparente do céu, que nada mais é que o nosso planeta rodando em torno de si mesmo. Também simulam como a parte do céu que podemos ver muda ao longo do ano devido ao movimento de translação da Terra ao redor do Sol", explica o físico e astrônomo amador Dulcidio Braz Jr.

Conhecer o céu usando um planisfério é o passo inicial que prepara os amadores para adquirir o seu primeiro instrumento ótico: um binóculo. Portátil, barato e fácil de usar, este instrumento oferece um campo de visão aberto, que permite observar uma grande porção do céu. Com ele, é possível ver galáxias, nebulosas (nuvens de poeira e gás), pedaços de constelações, aglomerados de estrelas, detalhes da Lua, entre outros objetos celestes.

O modelo ideal para iniciantes é o 7x50. O primeiro número indica a capacidade de ampliação do instrumento e o segundo, o diâmetro da objetiva (abertura), em milímetros. "O binóculo 7x50 oferece imagens nítidas (fáceis de focalizar) e permite ver uma grande quantidade de elementos no céu, fatores que facilitam a identificação dos astros", explica o astrônomo amador e diretor de programação do GEA (Grupo de Estudos de Astronomia, de Florianópolis), Antônio Lucena. Além disso, um instrumento deste modelo é barato - custa de R$ 150,00 a R$ 200,00 - o que resulta em uma ótima relação custo/benefício.

Somente após ter domínio da observação feita com binóculo, o iniciante deve partir para um investimento maior: o telescópio. Lucena explica que seguir estes passos é importante para que o astrônomo amador não se frustre e acabe desistindo da atividade. "A observação com equipamentos é melhor aproveitada se a pessoa já tiver estudado o suficiente para identificar aquilo que está vendo. Caso contrário, ela se decepciona, pois não reconhece nem entende o que vê".

Os telescópios variam muito em tipos, dimensões e preços. Para os que estão começando e vão comprar o seu primeiro equipamento, o mais indicado é um refletor (que usa um espelho no lugar da lente objetiva), com uma abertura de aproximadamente 120mm e distância focal entre 750 e 900mm. O preço varia de R$ 1.000,00 a R$ 1.500,00.

Um equipamento desse tipo multiplica consideravelmente as possibilidades de observação. Com ele, o iniciante já consegue focalizar bem os astros e ver com detalhes os anéis de saturno, estrelas múltiplas (que a olho nu parecem apenas uma, mas na verdade são duas, bem próximas), estrelas variáveis (cujo brilho varia com o tempo), as crateras e montanhas da Lua e uma infinidade de corpos celestes.

A abertura é a característica principal de um telescópio, pois determina a entrada de luz, elemento crucial na formação de uma imagem nítida. Quanto maior a abertura, maior, melhor e mais caro será o instrumento. Já a distância focal, menos importante, define o poder de ampliação das imagens. Sua medida corresponde à distância requerida por uma lente ou espelho para focalizar a luz.

Depois de adquirir seu primeiro telescópio e explorar as possibilidades de observação que eles oferecem, os astrônomos amadores tornam-se experientes o suficiente para escolher seus próximos equipamentos, para observar o céu com mais autonomia e, quem sabe, até realizar alguma descoberta.

Outro caminho possível é se aventurar na astrofotografia, atividade que requer um bom tempo de estudo. Braz Jr., astrofotógrafo iniciante, conta que é preciso um longo processo até que o astrônomo esteja pronto para a atividade. "O ideal é estudar muito, aprender a observar o céu com telescópios e só então partir para o uso das câmeras".

Bombardeio de meteoritos pode ter estimulado vida na Terra

Quando meteoritos de vários tamanhos bombardearam a Terra há 3,9 bilhões de anos, aquecendo a superfície do planeta e provocando a evaporação de oceanos, elas podem, ao contrário do que muitos cientistas supunham, ter ajudado a estimular o surgimento de vida no planeta, de acordo com um novo estudo da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos.

O novo estudo mostra que o bombardeio teria derretido menos de 25% da crosta terrestre, e que micróbios podem ter sobrevivido em um habitat subterrâneo, isolados da destruição.

E o intenso calor do impacto, segundo o estudo, criou um habitat que estimulou a reprodução de bactérias formadas por uma só célula que são termófilas e hipertermófilas - capazes de sobreviver a temperaturas de 50 a 80 graus Celsius ou de até 110 graus Celsius.

Simulação

A descoberta foi feita através de uma simulação de computador. Como as evidências físicas do bombardeio de asteroides foram apagadas pelo tempo e pela ação de placas tectônicas, os pesquisadores usaram dados das rochas lunares recolhidas pelas missões Apollo, e registro de impacto de meteoros na Lua, Marte e Mercúrio.

"Até sob as condições mais extremas que nós impusemos (na simulação), a Terra não teria sido completamente esterilizada pelo bombardeio", disse Oleg Abramov, um dos autores do estudo.

Ao invés disso, fissuras que expeliam água quente podem ter criado um santuário para esses micróbios que preferem ambientes de calor extremo.

O estudo, publicado na revista "Nature", sugeriu também que a vida na Terra pode ter começado 500 milhões de anos mais cedo do que se pensava.

"Não é pouco razoável sugerir que havia vida na Terra há mais de 3,9 bilhões de anos", disse Stephen Mojzisis, que também participou do estudo. "Nós sabemos de registros geoquímicos que nosso planeta era habitável naquela época."